GRUPO DE TERAPIA OCUPACIONAL COM IDOSOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS, UTILIZANDO A MÚSICA COMO RECURSO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Carolina Lemes de Oliveira¹
Priscila Salles Ramuski²
RESUMO
O presente artigo objetiva apresentar um relato de experiência de estágio profissionalizante supervisionado pela Docente Márcia Pontes Mendonça, no grupo "Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais", coordenado pela terapeuta ocupacional Tania Cristina Fascina Sega Rossetto. O grupo ocorreu na Unidade Saúde Escola - USE/UFSCar. Com o envelhecimento da população, aumentam também as doenças crônicas, degenerativas e outras questões relacionadas à velhice, surgindo assim a necessidade de uma atenção especial no que diz respeito à ampliação e qualificação dos recursos médico-tecnológicos e humanos, qualidade de vida e envelhecimento saudável. O uso da música e de instrumentos é fundamental no tratamento de idosos com necessidades especiais e na prevenção, pois estimula os aspectos cognitivo, sensório-motor e psicoterapêutico, valorizando a subjetividade do idoso, seus desejos, dificuldades e conquistas. Para a condução do grupo, participaram a Terapeuta Ocupacional Tânia Rossetto, as estagiárias de terapia ocupacional e a aluna do curso de música. Na metodologia foi apresentado, de forma detalhada, o que ocorreu nos encontros do grupo ao longo do segundo semestre de 2010.
Palavras-chave: musicalização, terapia ocupacional, grupo de idosos.
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Segundo dados de projeção do IBGE, hoje existem mais de 10 milhões de idosos no país e em 10 anos serão mais de 15 milhões, ou seja, um crescimento de 50%. Com o envelhecimento da população, aumentam também as doenças crônicas, degenerativas e outras questões relacionadas à velhice, surgindo assim a necessidade de uma atenção especial no que diz respeito à ampliação e qualificação dos recursos médico-tecnológicos e humanos, qualidade de vida e envelhecimento saudável.
A velhice deve ser entendida como uma etapa da vida onde acontecem modificações que afetam a relação do indivíduo com o meio, dentro de um tempo (TOURINHO, 2005). No processo de envelhecimento ocorrem mudanças nos aspectos biológico, social, psicológico e funcional na vida dos indivíduos. As perdas funcionais que ocorrem durante o processo de envelhecimento com (ou não) a instalação de uma doença, afetam os idosos na realização de atividades da vida diária (AVDs) - higiene pessoal, alimentar-se, vestir-se - na realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVDs) - autonomia financeira, administração de medicamentos, cuidar da casa, fazer compras, utilizar transportes - e tantas outras atividades que fazem parte do cotidiano. outras perdas que também fazem parte desse processo são a diminuição do vigor físico, diminuição ou perda da visão, da audição, da altura, massa óssea, queda de cabelos, menopausa, problemas de memória e outros.
Dentro deste contexto, a terapia ocupacional na gerontologia visa promover ações que estimulem o autocuidado e autonomia do idoso em suas atividades diárias, instrumentais e práticas, bem como no uso de suas potencialidades e habilidades remanescentes (ROSSETTO, 2010). Para alcançar esses objetivos podem ser utilizadas atividades e recursos, dentre os quais podemos citar a música, instrumentos, trabalhos artísticos manuais e tantos outros.
Segundo Tourinho 2005, a música é um estímulo potente para a evocação de lembranças e é lembrando que podemos avivar fatos inconscientes que ampliam o significado do "ser velho". O uso da música e de instrumentos é fundamental no tratamento de idosos com necessidades especiais e na prevenção, pois estimula os aspectos cognitivo, sensório-motor e psicoterapêutico, valorizando a subjetividade do idoso, seus desejos, dificuldades e conquistas. Quando o idoso traz as músicas do "seu tempo" elas vêm carregadas de elementos anteriores e também atuais. Segundo um artigo publicado pelo Hospital do Coração, estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, como Parkinson e Alzheimer, melhora a coordenação motora de deficientes físicos e induz a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar.
OBJETIVOS
A proposta deste artigo é apresentar um relato de experiência de estágio profissionalizante supervisionado pela Docente Márcia Pontes Mendonça, no grupo "Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais", coordenado pela terapeuta ocupacional Tânia Cristina Fascina Sega Rossetto. O objetivo é contribuir com a produção de trabalhos focando a atuação de terapeutas ocupacionais nesse contexto, além de ressaltar a riqueza dos recursos usados (o lúdico, a música, os instrumentos e a socialização etc.) e o trabalho multidisciplinar (terapeuta ocupacional e musicista).
É um grupo de caráter curativo e atende a idosos (60 anos ou mais; homens e mulheres) portadores de disfunções físicas (sequelas de AVE, parkinsonismo etc.) e/ou quadros depressivos e alterações cognitivas leves. Os principais objetivos do grupo são possibilitar a socialização dos idosos, buscar, através dos recursos terapêuticos ocupacionais fortalecer a identidade, auto-estima, exercitar a iniciativa, capacidade de escolher e tomar decisões e promover qualidade de vida.
METODOLOGIA
O grupo "Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais" acontece uma vez por semana, com uma hora e meia de duração na Unidade Saúde Escola - USE, na Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. O grupo existe desde 1993 e foi acompanhado pelas estagiárias de terapia ocupacional no segundo semestre de 2010, durante quatro meses. No início de cada encontro canta-se a música "Ó pião", falando o nome de todos os participantes presentes. Em seguida, completa-se o calendário com o dia da semana, o dia do mês, o ano, a estação do ano e o tempo, promovendo assim a orientação temporal. E para encerrar canta-se a música "Está chegando a hora" para os idosos se despedirem.
Foram quatorze encontros durante o semestre, e nesse tempo realizamos as seguintes atividades: no primeiro encontro foi trabalhado o ritmo (bater palmas, bater as mãos na mesa, nas pernas etc) seguindo a música; cantamos a música "Peneira" com a elaboração de um movimento por cada participante e treinamos "Escravos de Jó" com os instrumentos. No segundo encontro usamos o jogo "Escravos de Jó" várias vezes com os instrumentos e marcação de tempo e cantamos a música "Peneira", com cada participante elaborando movimentos, estimulando assim a criatividade e participação.
No terceiro encontro foi levado o brinquedo pião, o que inspirou recordações da infância, conversas e compartilhamento de experiências; foi trabalhada a recordação das brincadeiras de infância (ex: passar anel, esconde-esconde, corre-cotia, brincadeira de roda "ciranda cirandinha...", bolinha de gude, campeonatos de peteca etc); também foi comunicado que outubro é o mês das crianças e foi proposto que o grupo fosse à unidade da criança, na Unidade Saúde Escola (USE) cantar e brincar com as crianças.
No quarto encontro alguns integrantes lembraram-se de frutas da infância (ex: jambo, marmelo) e conversaram sobre o assunto; cantaram "ciranda cirandinha" e alguns deles recitaram versos ao final da música; em seguida o grupo foi dividido em grupo 1 (iria bater o instrumento coco) e o grupo 2 (usaria o chocalho) com a mesma música em momentos diferentes, depois os grupos foram invertidos, trabalhando assim a coordenação, atenção e ritmo; cantamos "O sapo não lava o pé" e o "sapo jururu", sendo que nesta última as mulheres cantariam a primeira parte e os homens a segunda parte e vice-versa, depois todos juntos; jogamos peteca no final. Os idosos divertiram-se bastante e tiveram uma boa participação.
No quinto encontro trabalhamos com as charadas (o que é o que é), e eles citaram algumas; foi feito leitura de versos do livro chamado "Brincadeiras e ritos populares"; cantamos "Eu fui ao tororó" passando copos para fazer o ritmo, em em seguida fizemos "Escravos de Jó" com objetivo de trabalhar a memória, movimento dos braços, ritmos, canto e coordenação. No sexto encontro ocorreram lembranças da época da escola em que cada um falou um pouco de si; foi observado espontaneidade em cada um dos participantes. Em seguida, o grupo trabalhou na escolha das musicas que seriam cantadas na unidade da criança no mês de outubro, por exemplo, "Mulher rendeira", "ciranda cirandinha" e "Fui no tororó"; usamos instrumentos para ensaiar as músicas.
No sétimo encontro preparamos as músicas para as crianças iniciando o ensaio de "ciranda cirandinha" marcando passos, em seguida "Fui no tororó", "Mulher rendeira", "Marcha soldado" e "O sapo não lava o pé"; foi sugerido ao grupo procurar versos e charadas ou tentar recordar e trazer para o próximo encontro. No oitavo encontro foi realizada a atividade com as crianças: cantamos para cada criança a música de "boas vindas", falando o nome de cada uma; o grupo cantou com as crianças "ciranda cirandinha" e "Fui no tororó", os idosos recitaram versos e interagiram com as crianças que estavam ali; voltamos para a sala de musicalização e conversamos sobre a experiência. Algumas das músicas a maioria das crianças não conhecia e o grupo pôde ensinar e compartilhar suas lembranças e estórias de infância. Discutimos quais músicas iríamos cantar na próxima vez e foi sugerido pelo grupo "O sapo não lava o pé", "Ó pião", "Mulher rendeira" e usar a peteca para brincar com as crianças. No nono encontro foram realizadas novamente as atividades com as crianças, podendo ser observado boa interação entre as crianças e os idosos, os quais estavam mais a vontade.
No décimo encontro conversamos sobre as atividades com as crianças e cada um falou sobre como se sentiu - foi geral o sentimento de uma experiência positiva e agradável; foi colocado a possibilidade de fazer um amigo secreto, construir instrumentos e trocar no dia; aproveitamos para cantar algumas músicas que eles estavam com saudades, como por exemplo, "Emoções" de Roberto Carlos, "Baile da saudade", "Jardineira" - o grupo se emocionou bastante. No décimo primeiro encontro escolhemos quais instrumentos iríamos construir: chocalho de punho, tambor, pau de chuva, castanhola, chocalho de garrafa, e foi decidido quais materiais iríamos precisar; tiramos o amigo secreto e foi pedido para que cada um escrevesse um bilhetinho dando dicas de quem poderia ser o amigo secreto. No décimo segundo encontro começamos a construir os instrumentos. No décimo terceiro encontro foi pedido, por um dos participantes, fazer uma oração em agradecimento pelo ano que passou e a união do grupo; terminamos a construção dos instrumentos e cantamos "Bate o sino". No décimo quarto encontro houve a entrega de presentes do amigo secreto, confraternização do grupo e depoimentos sobre o que motivou cada um a continuar participando do grupo.
O grupo proporcionou um espaço onde os idosos puderam compartilhar as questões pessoais, participar de atividade lúdicas, desenvolver a troca de experiências com os outros participantes; também foi possível trabalhar os aspectos cognitivos, auto-conhecimento e consciência corporal. Nos depoimentos apresentados pelos participantes no ultimo dia, foi colocado que se sentiram muito bem no grupo e a cada encontro sentiam-se mais dispostos e animados; também foi colocado que encontraram no grupo suporte para enfrentar as dificuldades e problemas do dia-a-dia. Um dos participantes relatou que, através das atividades no grupo, pôde trabalhar sua inibição e dificuldade para se expressar, sentindo-se atualmente mais a vontade para falar e se colocar. Esse movimento de abertura e integração também pôde ser observado em outro participante. A possibilidade de socialização também foi um dos principais pontos ressaltados por um dos idosos, que mora em uma instituição asilar e em vários momentos de tristeza foi bem acolhido pelo grupo.
CONCLUSÃO
Diante desse contexto em que os idosos estão vivendo mais anos, torna-se necessário pensar estratégias que possibilitem uma maior qualidade de vida a esses idosos. Tanto no âmbito curativo como no preventivo, observa-se os benefícios dos trabalhos em grupo, principalmente utilizando o lúdico, a música, os instrumentos e a socialização como recursos. A terapia ocupacional tem cada vez mais se utilizado desses recursos. Daí a importância de produzir-se estudos mais aprofundados sobre o tema e relatos de experiências vividas por terapeutas ocupacionais em diversos contextos.
¹Aluna do curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
²Aluna do curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COTTA, M.F. Cinco anos cantando a vida. XII Simpósio Brasileiro de musicoterapia.VI Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia.II Encontro Nacional de Docência em Musicoterapia. Goiânia, 2006.
GREGORUTTI, C.C; ARAÚJO, R.C.T. Ritmo e expressão como atividade terapêutica ocupacional em idosos institucionalizados e seus efeitos sobre os sintomas depressivos. Marília.
http://www.hospitaldocoracao.com.br/conteudo/dica.php?tx=ytoxontzoji6imlkijtzojm6ijm0osi7fq. Acesso em 03/12/10.
INOUYE, K. Educação, qualidade de vida e doença de Alzheimer: visões de idosos e seus familiares. Dissertação de mestrado - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar 2008.
O envelhecimento no Brasil. In: http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos/o-envelhecimento-no-brasil.html. Acesso em: 03/12/10.
ROSSETTO, T.C.F.S. Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais. Edital de apoio à realização de atividades de extensão para 2011. São Carlos:UFSCar, 2010.
TOURINHO, L.M.C. Musicoterapia e a terceira idade ou musicoterapia: corpo sonoro.2005. In: http://www.targon.com.br/users/lucia/1001.html. Acesso em: 06/11/10.
Dentro deste contexto, a terapia ocupacional na gerontologia visa promover ações que estimulem o autocuidado e autonomia do idoso em suas atividades diárias, instrumentais e práticas, bem como no uso de suas potencialidades e habilidades remanescentes (ROSSETTO, 2010). Para alcançar esses objetivos podem ser utilizadas atividades e recursos, dentre os quais podemos citar a música, instrumentos, trabalhos artísticos manuais e tantos outros.
Segundo Tourinho 2005, a música é um estímulo potente para a evocação de lembranças e é lembrando que podemos avivar fatos inconscientes que ampliam o significado do "ser velho". O uso da música e de instrumentos é fundamental no tratamento de idosos com necessidades especiais e na prevenção, pois estimula os aspectos cognitivo, sensório-motor e psicoterapêutico, valorizando a subjetividade do idoso, seus desejos, dificuldades e conquistas. Quando o idoso traz as músicas do "seu tempo" elas vêm carregadas de elementos anteriores e também atuais. Segundo um artigo publicado pelo Hospital do Coração, estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, como Parkinson e Alzheimer, melhora a coordenação motora de deficientes físicos e induz a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar.
OBJETIVOS
A proposta deste artigo é apresentar um relato de experiência de estágio profissionalizante supervisionado pela Docente Márcia Pontes Mendonça, no grupo "Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais", coordenado pela terapeuta ocupacional Tânia Cristina Fascina Sega Rossetto. O objetivo é contribuir com a produção de trabalhos focando a atuação de terapeutas ocupacionais nesse contexto, além de ressaltar a riqueza dos recursos usados (o lúdico, a música, os instrumentos e a socialização etc.) e o trabalho multidisciplinar (terapeuta ocupacional e musicista).
É um grupo de caráter curativo e atende a idosos (60 anos ou mais; homens e mulheres) portadores de disfunções físicas (sequelas de AVE, parkinsonismo etc.) e/ou quadros depressivos e alterações cognitivas leves. Os principais objetivos do grupo são possibilitar a socialização dos idosos, buscar, através dos recursos terapêuticos ocupacionais fortalecer a identidade, auto-estima, exercitar a iniciativa, capacidade de escolher e tomar decisões e promover qualidade de vida.
METODOLOGIA
O grupo "Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais" acontece uma vez por semana, com uma hora e meia de duração na Unidade Saúde Escola - USE, na Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. O grupo existe desde 1993 e foi acompanhado pelas estagiárias de terapia ocupacional no segundo semestre de 2010, durante quatro meses. No início de cada encontro canta-se a música "Ó pião", falando o nome de todos os participantes presentes. Em seguida, completa-se o calendário com o dia da semana, o dia do mês, o ano, a estação do ano e o tempo, promovendo assim a orientação temporal. E para encerrar canta-se a música "Está chegando a hora" para os idosos se despedirem.
Foram quatorze encontros durante o semestre, e nesse tempo realizamos as seguintes atividades: no primeiro encontro foi trabalhado o ritmo (bater palmas, bater as mãos na mesa, nas pernas etc) seguindo a música; cantamos a música "Peneira" com a elaboração de um movimento por cada participante e treinamos "Escravos de Jó" com os instrumentos. No segundo encontro usamos o jogo "Escravos de Jó" várias vezes com os instrumentos e marcação de tempo e cantamos a música "Peneira", com cada participante elaborando movimentos, estimulando assim a criatividade e participação.
No terceiro encontro foi levado o brinquedo pião, o que inspirou recordações da infância, conversas e compartilhamento de experiências; foi trabalhada a recordação das brincadeiras de infância (ex: passar anel, esconde-esconde, corre-cotia, brincadeira de roda "ciranda cirandinha...", bolinha de gude, campeonatos de peteca etc); também foi comunicado que outubro é o mês das crianças e foi proposto que o grupo fosse à unidade da criança, na Unidade Saúde Escola (USE) cantar e brincar com as crianças.
No quarto encontro alguns integrantes lembraram-se de frutas da infância (ex: jambo, marmelo) e conversaram sobre o assunto; cantaram "ciranda cirandinha" e alguns deles recitaram versos ao final da música; em seguida o grupo foi dividido em grupo 1 (iria bater o instrumento coco) e o grupo 2 (usaria o chocalho) com a mesma música em momentos diferentes, depois os grupos foram invertidos, trabalhando assim a coordenação, atenção e ritmo; cantamos "O sapo não lava o pé" e o "sapo jururu", sendo que nesta última as mulheres cantariam a primeira parte e os homens a segunda parte e vice-versa, depois todos juntos; jogamos peteca no final. Os idosos divertiram-se bastante e tiveram uma boa participação.
No quinto encontro trabalhamos com as charadas (o que é o que é), e eles citaram algumas; foi feito leitura de versos do livro chamado "Brincadeiras e ritos populares"; cantamos "Eu fui ao tororó" passando copos para fazer o ritmo, em em seguida fizemos "Escravos de Jó" com objetivo de trabalhar a memória, movimento dos braços, ritmos, canto e coordenação. No sexto encontro ocorreram lembranças da época da escola em que cada um falou um pouco de si; foi observado espontaneidade em cada um dos participantes. Em seguida, o grupo trabalhou na escolha das musicas que seriam cantadas na unidade da criança no mês de outubro, por exemplo, "Mulher rendeira", "ciranda cirandinha" e "Fui no tororó"; usamos instrumentos para ensaiar as músicas.
No sétimo encontro preparamos as músicas para as crianças iniciando o ensaio de "ciranda cirandinha" marcando passos, em seguida "Fui no tororó", "Mulher rendeira", "Marcha soldado" e "O sapo não lava o pé"; foi sugerido ao grupo procurar versos e charadas ou tentar recordar e trazer para o próximo encontro. No oitavo encontro foi realizada a atividade com as crianças: cantamos para cada criança a música de "boas vindas", falando o nome de cada uma; o grupo cantou com as crianças "ciranda cirandinha" e "Fui no tororó", os idosos recitaram versos e interagiram com as crianças que estavam ali; voltamos para a sala de musicalização e conversamos sobre a experiência. Algumas das músicas a maioria das crianças não conhecia e o grupo pôde ensinar e compartilhar suas lembranças e estórias de infância. Discutimos quais músicas iríamos cantar na próxima vez e foi sugerido pelo grupo "O sapo não lava o pé", "Ó pião", "Mulher rendeira" e usar a peteca para brincar com as crianças. No nono encontro foram realizadas novamente as atividades com as crianças, podendo ser observado boa interação entre as crianças e os idosos, os quais estavam mais a vontade.
No décimo encontro conversamos sobre as atividades com as crianças e cada um falou sobre como se sentiu - foi geral o sentimento de uma experiência positiva e agradável; foi colocado a possibilidade de fazer um amigo secreto, construir instrumentos e trocar no dia; aproveitamos para cantar algumas músicas que eles estavam com saudades, como por exemplo, "Emoções" de Roberto Carlos, "Baile da saudade", "Jardineira" - o grupo se emocionou bastante. No décimo primeiro encontro escolhemos quais instrumentos iríamos construir: chocalho de punho, tambor, pau de chuva, castanhola, chocalho de garrafa, e foi decidido quais materiais iríamos precisar; tiramos o amigo secreto e foi pedido para que cada um escrevesse um bilhetinho dando dicas de quem poderia ser o amigo secreto. No décimo segundo encontro começamos a construir os instrumentos. No décimo terceiro encontro foi pedido, por um dos participantes, fazer uma oração em agradecimento pelo ano que passou e a união do grupo; terminamos a construção dos instrumentos e cantamos "Bate o sino". No décimo quarto encontro houve a entrega de presentes do amigo secreto, confraternização do grupo e depoimentos sobre o que motivou cada um a continuar participando do grupo.
DISCUSSÃO
O grupo proporcionou um espaço onde os idosos puderam compartilhar as questões pessoais, participar de atividade lúdicas, desenvolver a troca de experiências com os outros participantes; também foi possível trabalhar os aspectos cognitivos, auto-conhecimento e consciência corporal. Nos depoimentos apresentados pelos participantes no ultimo dia, foi colocado que se sentiram muito bem no grupo e a cada encontro sentiam-se mais dispostos e animados; também foi colocado que encontraram no grupo suporte para enfrentar as dificuldades e problemas do dia-a-dia. Um dos participantes relatou que, através das atividades no grupo, pôde trabalhar sua inibição e dificuldade para se expressar, sentindo-se atualmente mais a vontade para falar e se colocar. Esse movimento de abertura e integração também pôde ser observado em outro participante. A possibilidade de socialização também foi um dos principais pontos ressaltados por um dos idosos, que mora em uma instituição asilar e em vários momentos de tristeza foi bem acolhido pelo grupo.
CONCLUSÃO
Diante desse contexto em que os idosos estão vivendo mais anos, torna-se necessário pensar estratégias que possibilitem uma maior qualidade de vida a esses idosos. Tanto no âmbito curativo como no preventivo, observa-se os benefícios dos trabalhos em grupo, principalmente utilizando o lúdico, a música, os instrumentos e a socialização como recursos. A terapia ocupacional tem cada vez mais se utilizado desses recursos. Daí a importância de produzir-se estudos mais aprofundados sobre o tema e relatos de experiências vividas por terapeutas ocupacionais em diversos contextos.
¹Aluna do curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
²Aluna do curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COTTA, M.F. Cinco anos cantando a vida. XII Simpósio Brasileiro de musicoterapia.VI Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia.II Encontro Nacional de Docência em Musicoterapia. Goiânia, 2006.
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http://www.hospitaldocoracao.com.br/conteudo/dica.php?tx=ytoxontzoji6imlkijtzojm6ijm0osi7fq. Acesso em 03/12/10.
INOUYE, K. Educação, qualidade de vida e doença de Alzheimer: visões de idosos e seus familiares. Dissertação de mestrado - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar 2008.
O envelhecimento no Brasil. In: http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos/o-envelhecimento-no-brasil.html. Acesso em: 03/12/10.
ROSSETTO, T.C.F.S. Arte, música e movimento: proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais. Edital de apoio à realização de atividades de extensão para 2011. São Carlos:UFSCar, 2010.
TOURINHO, L.M.C. Musicoterapia e a terceira idade ou musicoterapia: corpo sonoro.2005. In: http://www.targon.com.br/users/lucia/1001.html. Acesso em: 06/11/10.